lunes, 23 de enero de 2012

Graveola e o Lixo Polifônico no Palácio das Artes

O Grande Teatro do Palácio das Artes estava lotado. Mas não era para alguma ópera, uma superprodução ou um Chico Buarque que esgota ingressos na velocidade do desespero de quem quer ver os olhos azuis do Hollanda. O lugar que outrora acolheu nomes eruditos e orquestras sinfônicas foi cenário para o novo, para o que está acontecendo e é impossível não notar. O barulho está aí. Estão dizendo por aí.
 
E o que sai da cumbuca-multirítmica-indefinível é o Graveola e o Lixo Polifônico, banda já bastante conhecida por aqui e com repercussão em alguns centros do país, que encheu o Palácio das Artes na última sexta. A apresentação, que faz parte da programação do Verão Arte Contemporânea, renderá um DVD e serviu também para o lançamento do clipe de Farewell love song, música do último disco da banda, Eu preciso de um liquidificador

Liquidificador graveolístico que mistura um punhado de coisa – um pouco de rock brincalhão que chega a esbarrar nos Mutantes, outra tanto de samba bem-humorado com referências contemporâneas, admirável mundo novo da TV e da solidão facebookiana, algumas pitadas que lembram certos hermanos que agora só tocam quando querem. Mas não adianta definir a música do Graveola – e tampouco ela está aí para isso.
 
À vontade no palco, parece que não importava muito se a noite era num grande teatro ou num palco montado numa praça qualquer. A banda sabe bem o que fazer, e o faz com naturalidade, com um desapego moleque de quem vê com clareza onde pode chegar.

É como se jogassem como um Barcelona, trocando passes, sem erro, sem pressa, brincando, apreciando o próprio ritmo. A empatia com o público é notável. Inquietos em suas poltronas, outros em pé nas laterais, cantavam a letra de cor, dançavam, balançavam o braço de leve naquela balada, se entusiasmavam quando a música esperada chegava.

Foi um momento importante para o Graveola, para a música feita em Belo Horizonte, para quem percebe que não adianta mais esperar sentado no sofá. Isso não será televisionado. É fato. Talvez, nem haja resposta, mas o caminho está aí, nos resta trilhar. E essa estrada, meu amigo, vai se desdobrar em algo, em algum lugar... É só estar atento à hora do trem passar.
 
Texto publicado no site da Revista Ragga.

No hay comentarios.: