viernes, 9 de diciembre de 2011

À espera de Romário ou Ao encontro dos personagens principais

Dois dias em Brasília na captura do Baixinho. E muita coisa aconteceu

Por Bruno Mateus
Fotos Bruno Senna



Quase 12 horas de viagem e a certeza de uma entrevista agendada em Brasília. Era o que tínhamos – o destemido fotógrafo Bruno Senna e eu – a enfrentar. Um cigarro antes de entrar no ônibus para sentir a noite de temperatura até razoável faz muito bem, sim senhor. Senna chegou pouco antes de zarparmos rumo à capital federal, onde iríamos entrevistar Romário, aquele que jogou muito na Copa de 1994, foi campeão e fez Galvão Bueno berrar “É tetraaa!” como se tivesse visto a iluminação divina.

Sim, ele mesmo... O “baixinho”, o “peixe”, o “marrento”, o “gênio da pequena área” – como o definiu um outro gênio, um certo Johan Cruyff, comandante da Laranja Mecânica, a revolucionária seleção holandesa de 1974. Agora deputado federal, Romário tem se destacado por pegar firme quando o assunto é Copa 2014. O baixinho não vai dar mole para Mr. Ricardo Teixeira e sua turma, que agora tem Ronaldo no suspeito time.

Pé na estrada. Logo na primeira parada, preguiçosamente me levantei e saí para fumar. As pessoas comiam salgadinhos com cheiro não muito agradável, bebiam suco e, ok, não estão nem aí se o ministro do Trabalho pediu para sair, se o bom velhinho virá este ano ou se o filho de Wanessa Camargo está injuriado, antes mesmo de nascer, com Rafinha Bastos. Eles só querem chegar ao seu destino. Eu também.

Capítulo I



Brasília amanheceu quente. Pouco antes das 9h, flanávamos à procura de algum sinal de internet – e só achamos no shopping que fica próximo à rodoviária.

O horário combinado de estar no gabinete de Romário era por volta de 15h. Até lá, ficamos no shopping olhando e-mails, lendo notícias pouco interessantes e vendo belas garotas, acompanhadas de suas mães, fazendo compras e sorrindo como se a vida não tivesse percalços nem espinhos. 

Partimos para o Congresso Nacional. Antes mesmo das 15h, já estávamos a postos na porta do gabinete, no quarto andar do anexo 4 da Câmara dos Deputados. Romário não estava. A assessora de imprensa, tampouco. Um tempo depois, ela chega e diz: “o Romário veio, participou de uma comissão, foi embora e não atende o celular”. Eu e o fotógrafo nos olhamos e não precisávamos dizer nada para que nos entendêssemos. Para conferir à situação um ar fantasmagórico, um apagão resolveu acabar com a energia do anexo em que estávamos. De todo modo, continuamos a postos na porta do gabinete.

Em pé. Ou sentados no chão. Certo é que não era uma situação das mais prazerosas. Nos sentimos invisíveis. Só mais tarde é que fomos convidados para entrar e sentar. As horas passaram no compasso de uma tartaruga e nada do deputado. Investigamos daqui, averiguamos de lá, e descobrimos que o baixinho estava no plenário principal para uma votação. E já era 20h e cacetada, ou seja: perdemos o ônibus de volta a Belo Horizonte. Não importa, pensamos. Ainda havia esperança de conseguir a entrevista naquela mesma noite – o que, depois de muito andar, vigiar e fazer ligações, mostrou-se impossível.

Pode me ligar amanhã às 8h30, vamos dar um jeito, disse a assessora. Saímos da Câmara pouco depois das 22h. Ainda tínhamos que procurar um lugar para tomar uma ducha, comer e cair no sono. E, bem, você não imagina como foi difícil encontrar esse lugar. Dormimos rindo da nossa própria desgraça.

Capítulo II 


Não tinha outra: o jeito era ficar em cima. Às 8h42 daquela quarta-feira, lá estávamos, eu e o fotógrafo, na porta do gabinete 411. “Já te falei, homem! Você tem que ficar naquela viradinha ali, saindo do elevador. Assim você pega o Romário de jeito!”, disse Rosângela, que trabalha como faxineira na Câmara há 17 anos. Rosângela seria minha informante secreta durante aquele segundo dia.

Traçamos planos e estratégias ousadas para cercar Romário. E o baixinho chegou às 11h, acompanhado pelo assessor parlamentar. Romário chegou, respondeu ao meu “bom dia” e antes que eu balbuciasse outra frase ou me colocasse à sua frente, entrou no gabinete para uma reunião.

Tínhamos de correr contra o tempo – o fotógrafo tinha passagem comprada para 12h50. O assessor me disse palavras não muito animadoras, o que foi confirmado pouco mais tarde pela assessora de imprensa: Romário não daria a entrevista. Nem cinco minutos para uma foto. A bela garota se desculpou, disse que estava extremamente chateada. Cinco minutos, insisti, faço a entrevista por telefone, daqui ou de BH, mas apenas cinco minutos para uma foto! Em vão. Perdemos viagem. Romário saiu pela tangente e nos meteu um belo chapéu.
 
Finale

Sozinho, já que Bruno Senna, o destemido fotógrafo, havia ido embora, resolvi perambular pela Câmara. E ali fiquei o dia inteiro. Vi olhares bastante suspeitos em seus ternos alinhados, conversinhas estranhas ao pé do ouvido, secretárias com seus decotes nem tão reveladores assim, belas pernas de assessoras elegantes e aparentemente comportadas. Vi deputados nos corredores cercados por mil assessores preocupados como se houvesse, a qualquer momento, uma possível tentativa de assassinato. Jair Bolsonaro, Eduardo Azeredo, Jean Wyllys, Garotinho, Esperidião Amin. Estavam todos lá.

E eu, um jornalista com um gravador na mão, um maço de cigarros amassado no bolso e ideias absurdas na cabeça, caminhando sem Romário, sem lenço nem documento pelos corredores que viram e escutaram histórias inacreditáveis. Mas, ora veja, um jornalista não fica sem pauta – a menos que ele queira. E eu não queria.

Isaac Queiroz vende picolé há 10 anos na porta da Câmara; a cearense Gertânia passou por ali só para conhecer Romário e Tiririca; o piauiense João Pereira dos Santos Filho tenta ganhar a vida em Brasília como pintor; João José Rodrigues sente saudade de sua mulher, que o deixou há menos de um ano; e o taxista Manuel Martins está há 40 anos em Brasília e até gosta da cidade. Esses personagens, cada um à sua maneira, aliviaram minha frustração por não ter entrevistado Romário e me fizeram ver a beleza, a dor e os sonhos que cada um deles carrega nos olhos. E, no fim das contas, Romário é só mais um no meio da multidão. Ou coisa que o valha.
O repórter e Rosângela, sua informante especial

* Texto originalmente publicado aqui.

3 comentarios:

Dedezão dijo...

Fala Brunão, zapeando pelo Blog do Birner, li um post dele e me lembrei de você na hora. Você não foi, e nem será, o único que foi enrolado por ele. Dá uma lida aí.

Abraços

http://blogdobirner.virgula.uol.com.br/2012/04/20/deputado-romario-obrigado-pela-pisada-na-bola/

Bruno Mateus dijo...

Porra, Dedezão !! Boa lembrança, hein? Romário deu um chapéu no cara também !! rsrs.
Que merda...

GRande abraço!

Anónimo dijo...

Show de bola...