martes, 21 de abril de 2009

Assino embaixo !!!

Texto de José Roberto Torero, colunista da Folha de São Paulo, publicado no dia 14/04/09. Torero é um dos poucos jornalistas que têm tratado o assunto com sensatez e lucidez. O resto é esquizofrenia e histeria midiática.
Vale a pena ler!

Texto original: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/esporte/fk1404200916.htm



Ronaldo, o brahmeiro

Comparar as heroicas voltas de Ronaldo ao futebol com o suor da cerveja é chamar o espectador de estúpido


BEBERRAZ leitor, alcoofilista leitora, vocês viram o comercial do Ronaldo? O comercial da Brahma? Para quem não viu, faço um resumo: ele aparece driblando vários obstáculos, faz um trocadilho entre o suor dele e o suor da cerveja e acaba dizendo, com um copo na mão, que é um "brahmeiro".
Como assim? Um atleta importante fazendo comercial de cerveja? Ou pior, um atleta ainda gordo, em recuperação, fazendo comercial de cerveja? Não entendi. E não entendi porque me parece uma propaganda ruim para os dois.
Para a cerveja, porque eu, vendo o comercial, penso: "Poxa, cerveja engorda pra caramba!". Para o jogador, porque mostra que ele não é um atleta sério. É um cara que bebe mesmo ainda estando longe da sua melhor forma.
A Brahma e Ronaldo já estiveram juntos em outros comerciais. É uma parceria antiga, desde que ele tinha 17 anos. Mas ela já foi mais sutil e inteligente. Lembro que houve uma propaganda chamada "Guerreiro" em que apenas aparecia o rosto do jogador e havia um bom texto ao fundo. Outra trazia Ronaldo como um toureiro, driblando um touro várias vezes até que o vencia e abria a garrafa nos chifres do animal.
Mas este novo comercial está bem abaixo dos anteriores. Agora há uma ligação direta entre futebol e álcool. E obviamente os dois não combinam. A campanha ainda teve o azar de vir logo depois do anúncio de aposentadoria (talvez compulsória) de Adriano, que tem seu nome associado a problemas com bebidas. Estou longe de ser uma virgem vestal, defensor da pureza absoluta ou abstêmio radical. Até sou a favor da liberação de drogas leves (o que existe em parte, já que as bebidas alcoólicas são drogas leves), mas jogador fazer propaganda explícita de cerveja não dá. Passa da conta.
A legislação permite que as propagandas de bebidas abaixo de 13 graus GL (Gay-Lussac) sejam exibidas em qualquer horário. Por isso é que vemos comerciais de cervejas e dessas vodkas ice a toda hora. Porém, em maio de 2007, Lula assinou um decreto que classificou como alcoólica toda bebida com mais de 0,5 grau GL. Só que, inexplicavelmente, esse decreto não restringiu a propaganda de cerveja.
Voltando ao comercial, que foi criado pela agência África, no texto o atacante afirma que tem orgulho de "cair e se levantar". O redator não devia estar sóbrio quando o escreveu. É uma frase muito infeliz. Uma piada pronta. Tanto que, na mesma hora, o amigo com quem eu via o jogo comentou: "Cair e se levantar não é grande coisa. Qualquer bêbado consegue isso". E comparar o esforço heroico de Ronaldo para voltar três vezes ao futebol com o suor da cerveja é chamar o espectador de estúpido. É fazer troça da fantástica recuperação do jogador, que deveria falar "Eu sou artilheiro" e não "Eu sou brahmeiro".
A publicidade brasileira, que já foi das melhores do mundo, vem piorando nos últimos anos. Mas, agora, se superou. Acho que, pelo menos, para desencargo de consciência, esta nova propaganda deveria vir com um daqueles avisos no final, algo do tipo: "O Ministério da Saúde adverte: Cerveja dá barriga e faz você confundir mulher com similares".

lunes, 6 de abril de 2009

Se eu pudesse viver minha vida novamente...

Hoje caminhei feito táxi por Buenos Aires. Tinha algumas coisas a fazer. Havia muita gente na rua, muita criança na avenida Corrientes. Estamos nas férias de inverno, me parece que a criançada tem se divertido bastante: teatro, cinema, música, podem até escolher.
Havia muita gente na rua hoje.
Gente desconfiada, preocupada; gente que não se importa com nada e gente com cara de sapo. Mas, veja, é engraçado.
Havia muita gente na rua hoje, dia de céu medroso, e não vi nenhuma alma. Vi carcaças, máquinas bem programadas.
Ora, mas as crianças não querem nem saber... querem se divertir, gozar de um mundo que é só deles.
Tive vontade de ser criança e brincar...
De novo.

Buenos Aires
06/08/08