viernes, 27 de febrero de 2009

Prece cósmica

Tô buscando uma porrada de respostas, recorrendo a outra porrada de pessoas que possam me ajudar. Teólogos, astrônomos, bêbados e loucos do centro da cidade cuspindo blasfêmias. Escuto a todos com concentração acadêmica. Quase com auto-piedade.
Continuo rezando para que o disco voador venha me buscar.

Belo Horizonte
27/02/2009

viernes, 20 de febrero de 2009

Quanta sapiência !!


Uma das figuras mais inteligentes do Brasil, Ângela Bismarck agora ataca de cantora. Ela, certamente, bota Elis Regina, Ella Fitzgerald e Janis Joplin no chinelo. Dona de linda voz e de uma sabedoria impressionante. É importante ressaltar o dinamismo e versatilidade dessa loiraça de beleza incomum. Você está preparado para mais uma revolução no mundo pop ?

"Eu ainda não encontrei o caminho do que eu quero, né? Se é country, se é funk, se é samba... se é bossa nova. Isso aí eu vou me descobrindo com o tempo. Mas o que eu quero é cantar, né ?"

Acho importante divulgar as idéias e frases extremamente relevantes e inteligentes dos nossos artistas. Podem ter certeza de que as mulheres-fruta terão espaço garantido aqui. Viva a sabedoria !! Viva a cultura!!

Belo Horizonte
20/02/2009

jueves, 12 de febrero de 2009

A los chicos...

Ao lado de onde eu moro há uma casa tomada. Em San Telmo, bairro que me hospedou desde o primeiro dia, há uma porção delas. São casarões ocupados por famílias, que chegam e se apropriam do espaço. Ao lado da pequena varanda do meu quarto está a da família dos meus amigos. Com varal humildemente improvisado e tudo. Ao todo são seis crianças. Três são os homens. Michael, de uns doze anos, o outro que eu não me lembro do nome, deve ter onze. Posso muito bem inventar um nome para meu amigo, mas a importância que dou a isso é quase zero. E também Dante, que vive neste mundo há cinco anos. Outro dia encontrei Michael quando fui comprar cigarros. Me pareceu meio ressabiado, querendo dizer algo. Perguntei se estava tudo bem. Respondeu que sim, mas nem ele acreditou no que havia dito. O garoto pele-de-neve tinha duas garrafas de cerveja e uma de refrigerante numa sacola branca que suas mãos seguravam com certo incômodo. Antes de nos despedirmos, falou que era aniversário de seu pai, mas não ligaria porque estava chateado com ele. Consequência de um telefonema que nunca aconteceu naquele dia em que todos que conhecem Michael lhe desejaram felicidades. Está marcado no calendário e assim se procede. Ele estava aborrecido, confessou que ligaria dias depois. Nos despedimos e fui, caminhando pela Avenida de Mayo - onde "conheci" Roberto Arlt, para o hostel gozar mais uma noite de trabalho. O garoto que deve ter onze anos, esse mesmo, o que não sei o nome, encontrei faz pouco tempo. Ele havia ido comprar cerveja e refrigerante com a mesma sacola que Michael segurava com pouca vontade. Perguntei como estavam as coisas, ele me disse que tudo corria muito bem. Contou que Michael estava de castigo, por isso teve que cumprir a missão que outrora era do pele-de-neve. Motivo da reclusão: ele não havia feito os deveres da escola. Fiz cara de "isso acontece" e nos despedimos.
Dante, o de cinco anos, é um camarada muito engraçado. Nestes últimos tempos, tem me cumprimentado em português. Tudo bem, pergunta um orgulhoso Dante, feliz em mostrar que pode, com incrível doçura, falar meu idioma. Ele sempre me pede biscoito. Ou fruta. Quando falo que não tenho, o garoto sorri e pergunta: "E dinheiro, muito menos?". Hoje nos encontramos na varanda. Em português saudou-me. Perguntou se tinha biscoito. Eu disse que não. Ele viu que eu tinha algo nas mãos. Perguntou-me o que era. Argila, afirmei despretensiosamente. Dante arregalou os olhos de tanta surpresa, como quem concebe algo extraordinário, e sentenciou: "Isso eu nunca provei".


Buenos Aires

08/11/2008

lunes, 2 de febrero de 2009

Errata

Sei que neste espaço está registrada a promessa de escrever sobre o fim de minha viagem. Desculpe-me. Quem prometeu não fui eu, mas aquele editor-chefe que há dentro de mim. Num ato autoritário e de extrema força bruta, decidiu, por si só, que eu tinha de fazer o que ele queria. Sacana! Ignorou, com inigualável desprezo, qualquer outra decisão que porventura fosse tomada. Ora, quem essezinho pensa que é? Só o fato de hospedar-se em meu corpo não lhe confere a importância do tamanho de um transatlântico. Ele passou dos limites, nunca havia sido tão petulante. Ah, você não imagina o quanto ele me incomodou! Ditadorzinho asqueroso! O desgraçado me acordava, perturbava meu sono para lembrar-me que eu tinha que cumprir a promessa que ele(!) havia feito. Mas, como disse aquele conhecido torcedor de olhos azuis do Fluminense, mesmo calada a boca, resta o peito. Agora dou o troco, sou o coringa do baralho. Rio, sacaneio, saio pelado na rua, bebo a chuva e gargalho com infantil e louca satisfação por tê-lo mandado à merda.


Belo Horizonte
02/02/2009